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quinta-feira, 29 de abril de 2021

Um Centro aflito à espera de sua renovação

As grandes obras que afetaram uma parte sensível do Centro da Cidade do Rio de Janeiro - a implantação do VLT e a demolição do elevado da Perimetral - modificaram a paisagem e a mobilidade da região, mas deixaram um rastro de pendências que atravessou uma gestão inteira (prefeito Marcelo Crivella) sem solução.

Da circulação viária mal resolvida e capenga à desorganização absoluta do transporte por ônibus, a atual administração municipal, encabeçada pelo mesmo mentor das intervenções feitas para os mega eventos de 2014 e 2016, ainda não teve a percepção do que precisa ser reposto nos eixos, de modo a restituir à região a funcionalidade que sempre teve e merece ver resgatada.

Muitas intervenções e adaptações, feitas para atender desvios necessários em virtude de interdições para que se interviesse nas vias, cuja manutenção não faz mais sentido, precisam ser reconsideradas. Essas anomalias causam um impacto violento na mobilidade local, travando deslocamentos e isolando porções significativas da área central da cidade.

Sem mais alongar-me na introdução, minhas propostas para a melhoria da mobilidade do Centro, enfim, vão apontadas a seguir, começando pela circulação viária.

Avenida República do Paraguai: restituição do acesso à pista sentido Sul diretamente a partir da Praça Tiradentes e Rua Silva Jardim.

Rua da Carioca: inversão da mão de direção, do Largo da Carioca para a Praça Tiradentes, restituindo a linearidade do corredor de tráfego que liga o Centro (começando na Rua da Assembleia) à Usina, que perpassa ainda a Rua Visconde do Rio Branco, a Praça da República, a Rua Frei Caneca, a Avenida Salvador de Sá, o Largo do Estácio, as ruas João Paulo I e Doutor Satamini, a Avenida Heitor Beltrão e a Rua Conde de Bonfim. Com essa inversão, permitir a recepção do fluxo proveniente da pista sentido Norte da Avenida República do Paraguai e uma reserva de espaço, no quarteirão final, para a implantação de pontos reguladores de linhas de ônibus, como já existiu. E permitir ainda a restituição do trecho do corredor BRS que se inicia no Largo da Carioca em direção à Tijuca, perdido com a inversão da mão de direção.

Rua da Assembleia: inversão da mão de direção, da Avenida Presidente Antônio Carlos para o Largo da Carioca, restituindo a linearidade do corredor de tráfego que liga o Centro à Usina, seguindo pela Rua da Carioca. A partir disso, fazer o remanejamento dos pontos reguladores das linhas de ônibus que se servem da via para outros locais.

Avenida Nilo Peçanha: no trecho entre as avenidas Presidente Antônio Carlos e Graça Aranha, restituição da mão de direção neste sentido, como funcionava antes, consolidando este trecho para pontos reguladores de linhas de ônibus e convencionando todos os trajetos saindo pela Avenida Graça Aranha. No trecho entre as avenidas Graça Aranha e Rio Branco, eliminação dos pontos de parada de ônibus e regulamentação de ponto de táxi ao longo do lado esquerdo da via, com sinalização vertical e horizontal adequada. No trecho entre a Avenida Rio Branco e a Rua da Carioca (Praça Estado da Guanabara), adoção de mão neste sentido, como funcionava antes, implantando pontos reguladores de linhas de ônibus.

Ruas Evaristo da Veiga e Araújo Porto Alegre:  inversão da mão do sistema para este sentido, como funcionava antes, restituindo a sequencialidade do percurso entre a Avenida Passos e a Avenida Presidente Antônio Carlos.

Largo da Lapa e Rua Teixeira de Freitas: também a reconstituição do fluxo anteriormente existente, desde a Avenida República do Paraguai até a Avenida Beira Mar, perpassando o Passeio Público, melhorando a interseção deste corredor com as vias que servem à Glória e ao Catete (ruas da Lapa e da Glória e Avenida Augusto Severo).

Ruas Debret e Anfilófio de Carvalho: espaço extra para a relocação de pontos reguladores de ônibus.

Rua Senador Dantas: adoção de mão de direção no sentido do Largo da Carioca para o Passeio Público, considerando a eliminação da opção de tráfego pela Avenida Rio Branco.

Rua México: importante corredor de penetração da área mais central do Centro no sentido anti-horário, com saída para a Zona Norte pelas avenidas Almirante Barroso e República do Chile, e ruas do Lavradio e do Senado, que se integra ao corredor iniciado na Rua da Assembleia, com destino à Tijuca, a partir da Avenida Salvador de Sá.

Praça Mauá: adoção de mão inglesa defronte o Edifício Joseph Gire (Edifício A Noite), separando, por meio de adequada sinalização horizontal e vertical, sem a necessidade de dois cruzamentos sucessivos, os fluxos da Rua Acre para a Rua Sacadura Cabral (pelo lado do prédio) e da Avenida Venezuela para a Avenida Rio Branco (pelo lado da praça), mantendo somente o sinal para travessia de pedestres próximo à portaria do Museu de Arte do Rio (MAR).

Com relação ao Sistema de Transporte Público por Ônibus, quatro sugestões me parecem básicas para implementação.

A avaliação da circulação dos ônibus no Centro, com o reestudo da localização dos pontos reguladores, privilegiando, tanto quanto possível, a integração modal (em especial, com o metrô e o VLT) e a operação como linhas circulares, sem ponto final na região; a consideração da conveniência da mistura de linhas para as diferentes zonas, especialmente Norte e Oeste, num mesmo bolsão de pontos reguladores, favorecendo a oferta e a escolha dos passageiros; a adoção de um projeto de abrigo padrão para a proteção dos passageiros e também como ícone de identificação visual dos pontos reguladores; e a implementação de alargamentos de calçadas com estreitamento de pistas (como nas ruas Acre, Debret e México), ou alargamentos de pistas para ganho de espaço, ou ainda reserva total de via para uso exclusivo como ponto (caso da Praça Estado da Guanabara), prevendo piso em concreto armado ou blocos intertravados de concreto, para melhor circulação dos ônibus.

Alguns dos locais de possíveis bolsões de pontos reguladores são os seguintes.

. Rua Acre | saída de linhas para Oeste e Norte (pelas ruas Sacadura Cabral, do Livramento e Rivadávia Correa; ou pelas avenidas Rio Branco e Presidente Vargas) e Sul (pela Avenida Rio Branco);

. Candelária | reorganização dos pontos reguladores da Avenida Presidente Vargas, já transformada em terminal nas cercanias da Praça Pio X e entre as avenidas Passos e Rio Branco;

. Largo da Carioca | ao longo da Avenida República do Chile, no sentido Lavradio, com possibilidade de remanejamento de calçadas para ganho em faixa extra para a parada dos coletivos;

. Rua do Senado | expansão da área de pontos da Avenida República do Chile;

. Avenida Nilo Peçanha (início) | bolsão já existente, próximo ao Fórum, a ser replanejado;

. Avenida Nilo Peçanha (final) | reimplantação de bolsão anteriormente existente, a ser ampliado, próximo à Praça Estado da Guanabara;

. Rua Debret | expansão da área de pontos da Avenida Nilo Peçanha;

. Rua Anfilófio de Carvalho | expansão da área de pontos da Avenida Nilo Peçanha;

. Central | linhas para a Zona Sul agrupadas criteriosamente no Terminal Procópio Ferreira;

. Rua México | quarteirão de pouca circulação, entre as avenidas Almirante Barroso e Nilo Peçanha;

. Terminal Menezes Cortes, no Castelo.

Enfim, urge vencer o marasmo e tocar o resgate do Centro da Cidade, para o qual se pede um olhar respeitoso, por sua importância, tanto quanto carinhoso, por sua relação com o carioca.

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