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sábado, 2 de novembro de 2013

Valeu, Perimetral

Eduardo Paes parece ter incorporado o espírito empreendedor de Francisco Pereira Passos, o prefeito (1902-1906) que modernizou o então Distrito Federal de pouco mais de um século atrás. Sem entrar no mérito de haver ou não declarada intenção do atual alcaide em fazê-lo, nem de ele possuir a necessária competência para consegui-lo, acontece que a iminente demolição do Elevado Juscelino Kubitschek (a Avenida Perimetral), um dos marcos essenciais do renascimento da Zona Portuária carioca, pode ter criado, por vias transversas, um fato benéfico, que suscita a reavaliação do modo como se estruturam os deslocamentos na cidade. O bota-abaixo da via expressa, abordado quase que apenas sob a ótica da melhora do aspecto estético de vias como a Avenida Rodrigues Alves e as praças Mauá e Quinze de Novembro, reacende, ainda que talvez timidamente, um importante debate acerca da mobilidade da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Explica-se. É fato que uma parte considerável do tráfego que utiliza a Perimetral seja oriunda dos municípios vizinhos da capital banhados pela Baía de Guanabara – Duque de Caxias, Magé, Guapimirim, Itaboraí, São Gonçalo e Niterói. Uma região que embora tenha, em sua grande maioria, naqueles que se deslocam para o Rio, usuários cativos do ônibus, demanda, por sua própria conformação geográfica, um outro tipo de transporte: o aquaviário. Há pelo menos três décadas se discute nos fóruns de governo, insanamente e com resultado zero até hoje, a necessidade de implantação de eficientes terminais intermodais para a captação desses passageiros próximos de suas origens de viagem e posterior transbordo para embarcações de grande porte, em dois locais bem definidos: no chamado fundo da baía, em uma das praias de Magé; e em Porto da Madama, bairro litorâneo de São Gonçalo.

Essas viagens pela Baía, em veículos rápidos, modernos e capazes de transportar até 2 mil passageiros por vez, retirariam um número absurdo de ônibus e carros das congestionadas vias de acesso ao Rio de Janeiro. E deixariam esses relaxados viajantes (é um verdadeiro passeio, mais do que uma simples ida para o trabalho, chegar por mar à Praça Quinze) em pleno Centro da Cidade, destino final de uma boa parte deles. Existe alguma lógica em não ser desta forma? E por que será que nunca se adotou isso?

Será nessa fase – a partir da demolição da Perimetral e até a inauguração da nova via expressa em que se transformará o corredor que seguirá pela Rodrigues Alves até a Avenida General Justo, nas proximidades do Aeroporto Santos-Dumont – que a cidade vai sofrer mais. Seria indicado que a mudança estrutural que carrearia esses deslocamentos para a opção marítima houvesse sido preparada antes do impacto do desaparecimento do elevado. Mas, paciência. O fato, como dito, está criado; e o momento se tornou excepcionalmente propício a essa reflexão.

Mesmo se pensarmos que, com a conclusão das obras, o sistema que percorre o perímetro da Zona Portuária terá tido um aumento de 20% de sua capacidade (já que a soma das faixas, por sentido, do sistema Perimetral e Rodrigues Alves, hoje 5, crescerá para 6, com 3 faixas na Avenida Arquiteto Oscar Niemeyer – a Via Binário do Porto, que absorverá o tráfego da atual Rodrigues Alves – e ela própria que, transformada em via expressa, com outras 3 por sentido), é preciso imaginar essa estrutura desafogada, com tráfego fluido. Coisa possível, se um considerável número de viagens migrar para os catamarãs e as barcas.

O Centro do Rio de Janeiro está prestes a ganhar de volta uma região que foi relegada a um abandono inexplicável, até por se tratar de sua antiga principal porta de entrada – o terminal de passageiros do porto, na Praça Mauá. Uma ambiência dotada de uma vista panorâmica das mais lindas, dessa cidade tão pródiga em belas paisagens e que já teve nas docas uma relevante manifestação de seu viés progressista.

Outras alterações devem vir com a demolição, seja pelas medidas mitigadoras por conta do período de obras, ou mesmo pela mudança de paradigmas que a recuperação de Saúde, Gamboa e Santo Cristo devem ensejar. Uma delas é a restrição das operações de carga e descarga no Centro, que passam agora a ser proibidas no período entre as 6 e as 21 horas. Um caminho para se adotar também, como padrão, o fracionamento das entregas em veículos menores, com disciplina de parada. O próprio estacionamento de carros particulares, que sofrerá com a paulatina redução das vagas disponíveis e a supervalorização dos espaços remanescentes, deve continuar a ser desestimulado, com o final do processo de revalorização do Centro. Mas que não se esqueça, jamais, que isso se faz com a contrapartida de um transporte público de qualidade: confortável, seguro, confiável, eficiente e a preço justo. E aí, então, viva o VLT (veículo leve sobre trilhos)!

A ocupação mista que se pretende para esse novo Centro, quase do tamanho da região que costumamos assumir como a verdadeira parte (mais) central da cidade, com escritórios e moradias convivendo harmonicamente, exige, por sua vez, um cuidado específico no planejamento urbano. O carioca, de um modo geral, não se entende morando no Centro da Cidade, a menos de determinados locais muito específicos, um dos quais a Lapa. Povoar o porto somente com escritórios tenderia a criar uma área morta fora do horário comercial e é esse perigo que a região não pode correr. Estimular o morar no Centro é outro fator crucial de sucesso para o Porto Maravilha.

Daqui a dois anos, o impacto da perda da Perimetral não será mais sentido, considerando o sistema viário que irá substituí-la com as vantagens já elencadas (vias revalorizadas e maior capacidade de tráfego). Mas haverá outras intervenções importantes, que mudarão substancialmente o polígono descrito pela orla central e a Avenida Rio Branco. Esta, por exemplo, deixará de ter tráfego comum, sendo reservada a um corredor BRT (Bus Rapid Transit), que virá desde a Avenida Brasil e atingirá o Aeroporto Santos-Dumont. A Rua Primeiro de Março abrigará o VLT, nosso bonde moderno, deslizando por entre o casario tradicional preservado. A Praça Quinze perderá o imenso viaduto sobre si, confinando o tráfego em seu subsolo, de modo mais organizado. Enfim, haverá menos opções de passagem pelo chamado ‘Centrão’, o que precisará ser compensado com transporte público de qualidade, com alta capacidade.

São, enfim, novidades radicais, numa terra revolucionária acostumada a ideias novas e mudanças de paradigma. E, convenhamos, o que é um elevado no chão, perto dos desmontes dos morros do Senado, do Castelo e de Santo Antônio, dos aterros de Flamengo, Botafogo e Copacabana e de tantas outras intervenções que tivemos, no século passado, proporcionando uma cidade melhor, mais digna e ainda mais bonita? Foi bom enquanto durou, perpassar a Zona Portuária velozmente e, ainda por cima, com uma bela vista que incluía a Ponte Rio – Niterói. Mas, passou. Acabou.

Hoje, Dia de Finados, é o último de funcionamento do elevado da Perimetral, pelo menos no trecho entre a Rodoviária Novo Rio e a Gamboa, nas proximidades da Praça Mauá, que será implodido em quinze dias, no domingo 17. Por todos os argumentos que fui capaz de encontrar, não considero incoerente um Engenheiro de Transportes defender a demolição de uma via expressa, logo num aglomerado urbano que possui um trânsito tão difícil. Afinal, é preciso enxergar o fato sob um ângulo mais aberto, capaz de contemplar muito mais do que a simples perda – que fique registrado, ainda assim momentânea – de parte da capacidade de tráfego de uma região, sem dúvida, vital.

Como tantas outras baixas que ocorreram no passado, trata-se de uma iniciativa que não pode deixar de ser pensada como em prol do futuro da Cidade do Rio de Janeiro. Às vezes, é preciso destruir para se construir algo melhor. E o que virá será melhor. Não somente a nova Avenida Rodrigues Alves. Não somente o porto revitalizado. Mas, principalmente, o passo inicial para se reestruturar a matriz de deslocamentos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Se o prefeito não pensou eminentemente nisso, há bastante gente que pensa.

Viva o progresso!

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Entrando nos eixos

O padrão para os ônibus cariocas que se espera para 2016, quando será obrigatório, é o que já vemos num ensaio da Transportes São Silvestre, nas linhas 119 (Candelária - Copacabana), 161 e 162 (antigas 571 e 572, Lapa - Leblon, respectivamente via Jóquei e Copacabana), 573 e 574 (Glória - Leblon, outrora saídas da Praça São Salvador, via Jóquei e Copacabana) e 583 e 584 (Cosme Velho - Leblon, Jóquei e Copa). Veículos de piso baixo, com suspensão pneumática (a ar, que permite que o coletivo se incline um pouco em direção à calçada para facilitar embarque e desembarque), câmbio automático e, o mais importante, ar condicionado.

Porém algumas melhorias no sistema já podem ser percebidas. A partir do próximo sábado, 1º de junho, com a vigência da nova tarifa modal, reajustada para R$ 2,95 (dona Dilma mandou os prefeitos segurarem o aumento, para mitigar o estrago da inflação de janeiro), todos os ônibus urbanos da cidade, independentemente de terem ou não ar condicionado, custarão o mesmo preço. Com isso, algumas linhas que hoje custam R$ 3,10 e até R$ 5,40 terão redução na passagem.

Mais ainda: a integração que o Bilhete Único Carioca permite, de se utilizarem dois ônibus de tarifa modal, no espaço de duas horas, sem o pagamento da segunda passagem, se estende a todas as linhas do padrão urbano. Uma antiga reivindicação dos ilustres passageiros, cuja não implementação até hoje jamais fez sentido.

Vale o jogo de palavras: o sistema vai se ajustando e ficando mais justo.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Visão turva, foco errado

Não é o BRT que tem que ser esgarçado do Terminal Alvorada para o Jardim Oceânico. É a Linha 4 do Metrô que precisa avançar em direção ao centro da Barra, integrando-se à monumental estrutura que se está construindo na confluência das avenidas das Américas e Ayrton Senna.

É preciso fechar, ainda, o anel da Linha 1, seguindo da futura estação Uruguai, na Tijuca, até a Gávea, atravessando o Maciço da Carioca num túnel cuja obra representa, ao mesmo tempo, impacto ambiental zero e importância na vida da cidade, ao contrário, descomunal.

E também enredar mais o sistema sobre trilhos, construindo-se uma opção da Gávea ao Centro por Humaitá e Botafogo, além de incluir Jacarepaguá na malha metroviária, através de um traçado integrado que contemple, por exemplo, Vila Isabel, em direção ao Centro da Cidade.

Mais ainda: transpor a Baía de Guanabara e chegar a Niterói, como planejado há 60 anos.

É o transporte ferroviário - metrô e trem de subúrbio - que precisa ser prestigiado no Rio de Janeiro, enfim. A cidade, que curiosamente se orgulha de sua malha cicloviária mas não aprendeu ainda a respeitar a bicicleta, não precisa de mais ônibus a reter continuamente o trânsito e oferecer o serviço ordinário que está aí.

Deixar o carro em casa e preferir o transporte público é bom para a metrópole, mas o cidadão precisa ter a contrapartida de um sistema de transportes à altura da cidade mais importante do país.

Mudanças benéficas têm sido vistas nas intervenções recentes provocadas pelas atrações esportivas globais que estão a caminho. Qualidade de vida para os cariocas que ficam, depois dos jogos que vêm e vão, num piscar de olhos.

Então, a hora de mudar paradigmas, mais do que nunca, é essa!

quinta-feira, 11 de abril de 2013

A quem dar o troco?

Fale-se do descaso da prefeitura para com a qualidade do transporte público no Rio de Janeiro somente o indispensável.



A cidade que está por hospedar a Copa das Confederações, a Jornada Mundial da Juventude, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos merece tratamento melhor de seus administradores.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Improviso geral

Lamentável o despreparo da concessionária Metrô Rio para com as mudanças operacionais deste sábado 23. Os monitores de televisão das plataformas, ao sinalizarem a chegada de um trem da Linha 1 indo no sentido Sul, ainda indicavam como destino, na segunda 25 pela manhã, primeiro dia útil após a modificação, a estação General Osório! E não vi qualquer dos painéis de propaganda de integração, a propósito, mencionar a alteração de terminal.

Tudo isso aliado à poluição intensa da programação visual das estações, onde as tipologias são as mais variadas (sem padrão de sinalização) e a informação operacional se confunde com a informação institucional e, ainda e pior, tudo isso com propaganda à exaustão. As mensagens educativas (do tipo 'respeite a faixa amarela' ou 'cuidado com o vão entre o trem e a plataforma'), só para citar um exemplo, são feitas - no monitor de tevê - com fundo laranja, o mesmo que identifica a Linha 1 nos avisos de chegada de trens; mais uma mescla indesejável de simbologias e de informação.

Contudo, falta ainda perguntar duas coisas. Por que permanecem lacradas quatro saídas da estação Central, que servem às pistas centrais da Presidente Vargas no quarteirão da Praça da República, obrigando os passageiros que usam os pontos do BRS a atravessar a avenida sob sol e chuva? Já vi que essas escadas estão sendo usadas como depósito de material, o que, decerto, não é o propósito de sua construção.

Por fim, por que, até hoje, 31 anos (trinta e um!!!) depois de sua inauguração, a estação Largo do Machado ainda não conta com o seu segundo mezanino, com saída para a esquina das ruas do Catete e Machado de Assis? Num bairro tão residencial e comercial ao mesmo tempo e com intensa população idosa, evitar a travessia e distribuir melhor os movimentos de compra de bilhetes e de embarque & desembarque é algo indispensável. E inadiável.

Com a palavra, a Metrô Rio.

(texto publicado no Facebook da Metrô Rio)

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Integração de verdade à vista

Eduardo Paes, reeleito para administrar a cidade até o final do ano em que teremos os Jogos Olímpicos por aqui, começou 2013 prometendo implantar o Bilhete Único Carioca no metrô e nas barcas em seis meses. Atualmente, o BUC permite a integração intramodal ônibus-ônibus sem o custo da segunda passagem, desde que o transbordo aconteça em até, no máximo, duas horas, entre a primeira e a segunda condução, sendo ambas de tarifa modal (R$ 2,75). Na integração com os trens da Supervia, existe uma redução no valor da segunda viagem, de modo que o valor integrado (R$ 3,95) é 30% menor do que a soma das tarifas do ônibus (R$ 2,75) e do trem (R$ 2,90).

Hoje em dia também é possível utilizar o BUC para pagar passagens do metrô (R$ 3,20 - valor normal, igual ao do bilhete unitário) e da barca (R$ 3,10 para Niterói), porém o passageiro paga esses valores cheios, mesmo que faça conjuntamente uma viagem de ônibus. A viagem de barca, da Praça Quinze para a Praça Arariboia, sem integração nem bilhete único, custa R$ 4,50.

No caso do metrô, a integração tarifária é feita somente por linhas de ônibus específicas, do próprio Metrô-Rio, para dois grupos de bairros: para Barra da Tijuca e Jacarepaguá (Metrô Expresso, a R$ 4,35) e ainda para Andaraí, Cosme Velho, Caju, Fundão (Cidade Universitária), Grajaú, Leme, Méier, Muda, Rio Comprido, Rodoviária, Vila Isabel, Urca e Usina (integração expressa, a R$ 4,15). Existem dois trajetos considerados extensões da linha do próprio metrô, em direção à Gávea, que não têm acréscimo de tarifa, embora exijam a compra de bilhete específico.

A ideia é simplificar esse modus operandi, que é de compreensão difícil pelo passageiro. O próprio sistema de ônibus possui incoerências - 'ou não', talvez dissesse Caetano - com relação aos valores cobrados. Enquanto a tarifa modal é de R$ 2,75 (a única que permite integração com segunda tarifa zero, usando-se o Bilhete Único Carioca), há linhas de ônibus urbanos com ar condicionado com uma vasta gama de valores (de R$ 2,85 a R$ 5,40), que não obedecem a qualquer critério lógico de preço - como quilometragem percorrida, por exemplo - nem se integram tarifariamente com outros transportes, no âmbito da capital, onde a autoridade que determina os valores cobrados, presume-se, é a Secretaria Municipal de Transportes.

A Prefeitura promete ainda dotar a cidade de ônibus com ar condicionado em toda a frota, até 2016. Os novos coletivos deverão ter também motorização central ou traseira, suspensão pneumática e câmbio automático, entre outros aprimoramentos prometidos para melhorar o nível de conforto de motoristas e usuários.

Alguns veículos com essas novas características já começaram a rodar em algumas linhas, antevendo uma mudança de paradigma do transporte público aguardada há anos pela população carioca.