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quinta-feira, 15 de novembro de 2012

De volta aos trilhos

Transportar é preciso. Mobilidade, também é preciso. A remissão à frase de Fernando Pessoa que, no âmbito do movimento, tratou especificamente de navegar, é uma lembrança de quão forte tornou-se a necessidade de deslocar-se, por várias razões, ao longo da evolução do homem. Mostra também como essa atividade passou a ser acurada, dotada de aperfeiçoamentos que lhe permitissem a precisão - o outro sentido possível derivado do termo 'preciso' - que os sistemas de Transportes detêm hoje em dia, em especial em termos de confiabilidade.

O mundo deste início de século XXI está sentindo cada vez mais intensamente essa necessidade de transportar-se e se depara com esgotamentos cíclicos da capacidade de fazê-lo com um mínimo de excelência. Não de qualidade, cuja definição técnica está mais afeta à regularidade (o 'fazer igual', de modo repetido, independentemente de estar certo). Com o Brasil, em suas grandes metrópoles, sendo específico, não é diferente. Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo, estão tendo que se redescobrir, para não pararem no tempo e, mais do que nele, no espaço, já que este está cada vez mais escasso.

Então, a palavra da vez passa a ser mobilidade. No dicionário: 'propriedade do que é móvel', coisa que estamos perigosamente deixando de ser aos poucos. Uma prerrogativa que precisamos resgatar, em prol da nossa qualidade de vida. E não apenas algo 'para nossos filhos ou netos', como a ciência costuma planificar. É providência para já, para nós mesmos.

Nessa busca por mobilidade, especialistas em Transportes e administradores públicos começam, enfim, a expiar os erros cometidos, em anos de visionarismo e incompetência; e a pôr os pés no chão e a cabeça no lugar. Desse exercício de arrependimento e retomada de consciência, vem a boa - e nada velha - estrada de ferro conquistar, novamente, sua posição de destaque, na repaginação que nossas cidades estão fadadas a passar.

A revitalização de duas grandes e importantes áreas da região central da Cidade do Rio de Janeiro, a Zona Portuária (que compreende os bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo) e a Cidade Nova (nascida com contribuições de Centro, Catumbi e Estácio), traz de volta à baila a discussão do trem como o transporte de massa por excelência. Aquele que permite ganhos realmente perenes para as cidades, com investimentos seguros e o atendimento correto à necessidade da população.

Pena que essa redescoberta tenha-se dado por causa de adversidades como engarrafamentos, poluição (termo geral, que inclui a atmosférica e a sonora como destaques) e custos absurdos de frete, complicados - mas não impossíveis - de se reverter. Por outro lado, que bom que é possível despertar do pesadelo.

Sem desprezo, por favor, pela contribuição dos demais modais, nos papéis que lhes cabem nesse jogo. Cada um no seu quadrado. Contudo, sempre prezando o bom senso dos tomadores de decisão, na escolha do que é mais adequado, tecnicamente, até que isso exija o sacrifício do mais econômico ou do que convém ao viés político envolvido.

O momento, pois, é de otimismo e de muito trabalho!