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segunda-feira, 21 de junho de 2021

De volta à mesa com pratos limpos e mobilidade reinventada

Um dos setores grandemente atingidos pelas restrições de seu horário de funcionamento, em virtude da peste chinesa, foi o de bares, lanchonetes e restaurantes. As entregas em domicílio certamente não foram suficientes para cobrir os custos das estruturas montadas, incluindo as folhas de pagamento. A gravidade dessa situação motivou a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes a reclamar na Justiça os prejuízos de seus associados. A Abrasel não considera razoável que seja imposto aos estabelecimentos ligados à alimentação o impedimento de comercializar, em meio à crise sanitária, sob o pretexto de que sejam causadores de ajuntamento de pessoas.

Pois a reversão desse quadro ruim de baixa demanda pode vir a ser obtida com a ajuda da Mobilidade Urbana! Com a oferta de mais transporte, de forma reestruturada e pensando na circulação específica dos frequentadores, em particular na vida noturna, será possível reaquecer fornos, queimadores e churrasqueiras, para trazer as pessoas de volta à mesa e à vida. Pessoas que poderão deixar seus carros em casa, se assim desejarem, pois contarão com uma rede de transportes com atendimento eficiente, para levá-las às mais variadas opções de cardápio, contribuindo ainda para, ao repovoar as ruas, melhorar a segurança pública.

O Rio de Janeiro precisa e pode reavaliar os deslocamentos por ônibus, de modo a oferecer esse acesso a custo baixo para aqueles que pretendem divertir-se, principalmente com o avanço da madrugada. Neste sentido, pode-se cogitar, eventualmente, a dilatação do horário de funcionamento do metrô nos fins de semana, como já ocorre no Carnaval, mas é bem prático ter como linha dorsal uma seleção de linhas de ônibus específicas que componham cinturões de atendimento, contemplando vários bairros, de forma direta ou tangenciando seus limites, permitindo que se chegue a variadas localidades, com a possibilidade de um ou outro complemento de viagem, para um pequeno trecho, por táxi, carro de aplicativo ou carona.

Trens, VLT e barcas, claro, poderão ser agregados a esse esquema, com o decorrer do tempo e o incremento da demanda. Porém o ônibus, por sua prevalência no sistema e abrangência de atendimento, merece um destaque especial, no planejamento dessa rede.

Como exemplo do que pode vir a ser desenvolvido, apresento aqui o piloto de um primeiro cinturão de atendimento, que inclui três linhas de ônibus já conhecidas dos cariocas por rodarem inclusive nas madrugadas da vida, capazes de devolver a casa apreciadores da noite que circulem por quarenta bairros da cidade e ainda mais seis, nas proximidades.



As linhas selecionadas como exemplo (565, 433 e 636) varrem um bom número de bairros e irão atender a uma considerável parcela de usuários que estejam em trânsito pelos polos gastronômicos em seu caminho. Algumas modificações decerto se farão necessárias, como adaptações nos itinerários de modo a viabilizar que haja pontos ou trechos coincidentes entre as linhas, duas a duas, para permitir baldeações.

A ideia é que, com alguns cinturões formados segundo essa metodologia, pensados de forma que eles também se interceptem em pontos-chave específicos, se promova uma cobertura satisfatória, de maneira a criar a segurança de que as pessoas podem não depender tanto do carro para se deslocarem na noite, com o objetivo de lazer e, por que não, também na movimentação para o trabalho! Afinal, elas estarão nesses mesmos lugares, provendo atendimento e ajudando no resgate dessa atividade econômica que é tão cara ao carioca.

Fica o convite, para que o Poder Público se disponha a estudar essa proposta, que vislumbra a solução para dois problemas que o nosso Rio vivencia hoje: a melancolia comercial dos estabelecimentos de rua e o descaso absoluto para com o planejamento de sua Mobilidade Urbana.

Bora agir!